[tiau. até amanhã]

livreiro e o desespero diário do final de expediente

(domingo à noite. faltam poucos minutos para a livraria encerrar o expediente. embora o anúncio de fechamento já tenha sido dado por duas vezes, grande parte da freguesia insiste em procurar por aquele livro que, obviamente, não vai levar para a casa. livreiro, ao perceber o desespero de um determinado freguês próximo à estante de filosofia, decide ajudar)


- boa noite, o senhor procura algo específico?

- sim, ó, estou com uma lista de livros e gostaria de fazer um orçamento.

(uma lista. veja bem, faltam cinco minutos para o término do expediente e o freguês tem uma l-i-s-t-a na manga. JESUS CHRIST SAVE US)

- tudo bem, vamos lá.

(a lista tem aproximadamente 30 livros e, claro, a maioria dos títulos está errada, falta autor, não há isbn, ou seja, será necessário consultar um a um no google para que o orçamento seja feito da forma mais precisa possível)

(MUITOS minutos depois) - o senhor quer que eu envie por e-mail ou prefere que eu imprima a lista?

- não, não. agora você pode pegar todos, por favor? é que eu quero dar uma olhada.

manual prático de bons modos em livrarias: minha gente, o ocorrido acima não é um caso isolado. diariamente, muitos fregueses testam a nossa simpatia e o nosso bom mocismo praticando, sem dó, esse ato de extrema crueldade. e isso não acontece só em livrarias, acontece em qualquer setor do comércio. e, olha, é de uma falta de respeito/compaixão/educação ímpar. percebeu que a livraria vai fechar? GO AWAY de MOONWALKER, please. até entendemos que somos o puro creme de milho de piracicaba, mas, deixa eu te contar, tudo tem limite. : )
[miss simpatia]


freguês: voce pode me dar uma mão?

(livreira prontamente estende a mão ao cliente e a aperta)

freguês: oh!

(freguês, estarrecido com a malandragem da livreira, cumprimenta de volta)

TODOSRI.

manual prático de bons modos em livrarias: estamos cada vez mais simpáticos, pode falar. dependendo do[a] freguês[a], a gente fica igual arroz tio joão (soltinho, soltinho).
[rebobine, por favor]





- oi, você trabalha aqui?

(veja bem, era uma senhorinha de idade pra lá de fofa. gentileza gera gentileza e carla perez gera samba)

- oi, trabalho sim.

- posso te fazer uma pergunta?

- claro.

- você sabe se aqui vende aquelas fitas vhs para gravar em filmadora antiga?

(fita vhs? filmadora antiga? estamos nos anos 90? de volta para o passado? uepa!)

- não, não vendemos.

- ah, sim. e você sabe se vende em algum lugar perto daqui?

(não, não há sebos/brechós perto da livraria onde eu trabalho. mas, olha, confesso que eu daria um braço pra sair à procura de fitas vhs com aquela senhorinha)

- então, sinceramente, não faço a mínima idéia.

- ah, sim. posso perguntar pra outra pessoa da loja se aqui vende as fitas? você tem certeza que não vende?

(quem é que vai confiar em uma pessoa como eu, não é mesmo?)

- olha, eu tenho certeza, mas a senhora pode perguntar para outra pessoa sim. fique à vontade.

(e não é que ela foi?)

manual prático de bons modos em livrarias: fregueses de idade, abocanhando meu ♥ since ever.
[é muito amor]



(suspiro) ontem, o blog da companhia das letras publicou meu texto/participação especial, onde falo sobre vocês, fregueses do S2. como de costume, como sempre, vocês me mimaram até meu coração de melão virar suco. a pergunta é: como ter bom senso diante tanto amor? muita gente passou a conhecer o manual, a curtir a comunidade hippie do facebook, a seguir o delírio no twitter e, o melhor de tudo, a dar risada. e a intenção sempre foi essa: fazer sorrir.

aos novos fregueses, as regras são simples: "nós é tipo bem jesus, todo mundo a gente ama. só não vale comer em cima dos livros e cuspir enquanto fala"; sejam bem-vindos. aos fregueses que desde sempre estão divulgando e espalhando a semente do mal (ou o endereço do blog, veja bem), o meu muito muito muito obrigada. aos fregueses nhónhónhó (os nomes estão listados abaixo), um abraço de tigre, daqueles de tirar o ar:

tito silveira (o mais querido), amanda marques, thiago oliveira, ricardo silva e felipe brandão (os primeiros que acreditaram no blog, bial. ai que emoção, bial), diana passy (a freguesa que nos deu corda na terra dos pinguins) clara averbuk (essa linda, que espalhou o mal por todo o planeta r7), thais maranho ("oi, só tenho o twitter, o facebook e o manual no meu meu celular" haha), nina vieira (minha filha baiana tão linda e querida), juliana gomes (a freguesa mais mais mais simpática ever), rafael rodrigues (quem nos deu a primeira piscadela na web), roberto borati (freguês terrorista, que fala do blog até para o tio da barraca de milho), juliana g. (freguesa e amiga virtual de infância) livreira anarquista (portuguesa e musa inspiradora), amauri terto (parceiro no crime), guilherme donadio (outro importante parceiro no crime), flávia santos (parceira no samba twitteiro), marcos augusto (parceiro no abraço), rogério ortega (ou o homem-fruta da literatura), joselia aguiar (querida josélia cravo e canela), alice sant'anna (poeta e freguesa carioquete) e letícia sallorenzo (ou madrasta do texto ruim, ou a freguesa mais hilária e criativa desse blog).

amor a lot,
hillé.
[pluto, platão, plutão, pateta]

- platão? // - oi? // - tenho uma péssima notícia. // - fala, meu filho. // - você não é mais um planeta.
- MA CHE?!

freguesa: - oi, você tem 'a república' de plutão?

manual prático de bons modos em livrarias: eu preciso de um trago, minha gente. não tenho nem condições de falar.

[cubas, brás - literatura fantástica]

- manolo, vamo parar cás dorgas/


freguês 1 (segurando um exemplar de "memórias póstumas de brás cubas): esse livro do brás cubas é bom?

freguês 2: sim, é muito bom, você nunca leu?

freguês 1: não, mas esse tal de brás cubas escreveu só esse livro?

(HAHAHA, velho)

manual prático de bons modos em livraria: machado de assis me ligou ontem e disse adorar ser o autor mais lembrado pelos fregueses alucicrazys da livraria. tâmo junto, machadão, tâmo junto.

[trollando o namorado]


freguesa: - moça, fora todos esses (imagem acima), existe mais algum do pedro bandeira, da coleção "os karas"?

livreira: não, não tem. é pra você?

freguesa (envergonhada): não, é pro meu namorado (que estava ao lado da freguesa)

namorado da freguesa (e seus 25 e poucos anos): EU JÁ LI TODOS.

freguesa (envergonhada, mas sem deixar a grosseria escapar entre os dedos, rebate): cê quer uma medalha por isso?

(livreira acompanha tudo em silêncio, sem mover um único músculo do rosto. tenso)

manual prático de bons modos em livrarias: depois cê não sabe porque tá aí sozinho no dia dos solteiros, né? mimimi.
[livreira e seus atrasos]



manual prático de bons modos em livrarias: falar comigo nesse tom? (...) eu vou entrar p'ro mundo do entretenimento.
[será que ele é?]



(sábado de carnaval em agosto. AE! pura folia. livreiro atarefadíssimo, com milhares de livros para guardar, cliente para atender, telefone tocando, e-mails para responder, faxes para arquivar, entre outros. num momento de aparente calma, resolve guardar livros de ficção científica, para aliviar os balcões e repor as compras das fãs apaixonadas de vampirinhos. enquanto guarda, começa a ouvir um assobio e, ao olhar para o lado, vê um senhor idoso, todo bonachão, que vira para si e diz:)

- é o canto do uirapuru, só canta uma vez por ano.

(oi? oi, vem cá, alguém perguntou alguma coisa? livreiro, atônito, continua guardando os livros. o idoso, aquele danado, todo malicioso, não satisfeito, pega um livro de uma mesa qualquer e mostra a capa ao livreiro)

- hm, "ELAS". "ELAS". alguns gostam delas, mas alguns gostam deles. não é?

(livreiro, todo trabalhado na sinceridade, não deixa barato)

- eu gosto deles.

(o idoso, que já estava próximo à saída da loja, vai embora. livreiro sente que, em breve, ele voltará com um buquê de flores. ♥)


manual prático de bons modos em livrarias: hahahah gente. tô rindo até agora, licença.
[aos vencedores, as batatas literárias]


lá na comunidade hippie a gente perguntou qual seria a resposta ideal para a frenética pergunta: "oi, onde fica a estante dos e-books?". o vencedor do melhor delírio levaria o fabuloso "a vida imortal de henrietta lacks (cia das letras). a galera foi bem criativa, e quem ganhou foi o deco nunes, que responderia para o freguês o seguinte: " the book is on the tablet." (hahahaha!)

já no sorteio do livro-mais-lindo-de-todos-os-tempos-meu-deus-esse-livro-é-lindo, a trégua (ed. alfaguara), quem levou foi a juliana aoki . :)

fregueses vencedores, mandem o endereço de vocês para o e-mail do blog (manualpraticodebonsmodosemlivrarias@hotmail.com) e aguardem o pombo-livreiro.

manual prático de bons modos em livrarias: o manual prático, senhoras e senhores, tem os leitores mais mimosos de toda a blogosfera. então, nada mais justo do que mimar essa raça inquirível, sempre que possível.
[tudo junto e misturado - parte 7]




- oi, tem o livro "os homens que não amavam as mulheres super poderosas"?

- q/

- é, é um livro muito bom.

manual prático de bons modos em livrarias: não duvidamos. jamais.
[a arte de não ter educação]




freguesa 1: moça, posso te fazer uma pergunta do além?

(costumo dizer que um dia de trabalho que começa com "oi, você tem aquele livro que tem a maria do bbb na capa?" não pode ser um bom dia)

livreira: claro

(tô aqui a passeio mesmo)

freguesa 1: então, é um livro não sei o quê lá espanhol. cê sabe qual é?

(ai, filha, cê é um arraso na simpatia, mas eu tô com enxaqueca e a vontade de viver kd/)

livreira: putz, não faço idéia. mas você sabe como era a capa, alguma coisa?

(enquanto a freguesa 1 tenta puxar da memória algumas informações, entra em cena a freguesa 2, praticamente gritando)

freguesa 2: OI VC TEM O LIVRO ABSURDA/

(olha, eu sou do tempo do "por favor", "com licença", "desculpe" e "obrigado", portanto não sei lidar muito bem com gente maleducada. a única coisa que consigo pensar quando alguém me aborda dessa maneira é nos cinco minutos iniciais deste vídeo. um dia, ah, um dia, eu ainda vou fazer a amy)

livreira: só um instante que eu já vejo pra você, estou atendendo essa moça.

freguesa 1: você, pelo menos, sabe o título do seu livro.

freguesa 2, blasé e toda trabalhada na falta de bom humor: vou ali tomar um café.

freguesa 1: ela bem que podia ser mais educada, né? mas tudo bem, estou acostumada com a parte boçal da raça humana e a existência dela não faz a menor diferença.

( ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ freguesa 1, aquela linda, salvou o meu dia e ganhou meu coração INTEIRO. claro, fiz questão de revirar o google para achar o tal livro do espanhol, que era o lindo "a máquina de fazer espanhóis", do valter hugo mãe, aquele muso)

manual prático de bons modos em livrarias: a gente já falou aqui como é complicado estar ao telefone e nêgo ficar do seu lado, fazendo mil perguntas. mais complicado ainda é estar em um atendimento e alguém ficar te encarando, bufando, salivando, louco para devorar a sua ALMA. criançada, veja bem, livreiro não é malabarista, ou seja, um atendimento por vez e o mundo estará a salvo de livrarias com senhas.
[em tempo]



fui convidada pela linda diana passy para fazer uma participação especial no blog da cia das letras (alô, produção, capricha na minha makeup).

é muito amor! :) em breve, o manual estará lá com os penguins. S2
[trollando a freguesia]


- moço, você tem o cd d'a banda mais bonita da cidade?

(hahahaha, cd de uma música só? vem, gente!)

- e você conhece mais alguma música deles fora "oração"?

- sim, conheço todas.

- todas? quais todas?

(SILÊNCIO)

manual prático de bons modos em livrarias: meus colegas de trabalho são feitos de puro amor. sério. e, tá, a gente sabe que a banda é uma fofura e que tem outras músicas nhónhónhó, mas não dava pra deixar essa escapar. ♥
[mimimi]


vou ali comprar cigarros e já volto. não demoro, prometo! :)

p.s.: cês são unslhéndos. ♥
[tudo junto e misturado - parte 6]



- oi, eu queria aquele livro lá, "quando freud entristeceu".


manual prático de bons modos em livrarias: rola uma depressão filosófica. rola um desmaio.
[tiopes na livraria]


- oi, eu queria saber o preço do livro x.

(livreira consulta no sistema e verifica que o livro em questão está esgotado há alguns milhares de anos)

- olha, esse livro não é mais comercializado, a editora parou de publicar.

- e agora COMOFAS/ COMOFAS/ quem estuda?

(hahahahahahaha a risada foi inevitável, confesso. é que, né, mentira que tem gente que realmente fala assim. a vida tá de brinks comigo, não é possível.)

manual prático de bons modos em livrarias: comofaser www.estantevirtual.com.br (sem mais)
[crionças do infantil - parte 2, a revolução dos bichos]



(quarta-feira é dia de cinema, ou seja, a criançada vai à livraria transformar as estantes em lenha para fazer o lugar pegar fogo. todas quer morrer. aproveitando uma certa calmaria no setor infanto-juvenil, o livreiro começa a recolher a bagunça espalhada pelo local, quando é abordado por uma criatura com pouco mais de um metro, gritando:

- MOÇO, ESSE LIVRO AZUL É MUITO CARO! EU QUERO UM LIVRO AZUL SÓ QUE MAIS BARATO! ONDE TEM UM LIVRO AZUL MAIS BARATO, MOÇO?

(livreiro, sem um pingo de paciência, prestes a cometer um infanticídio ali mesmo, responde) - sei lá, mas tem esse aqui ó.

manual prático de bons modos em livrarias: a gente tá na contagem regressiva para o dia das crianças. aí sim.
[crianças do infantil]

adoráveis, não?
[café carioca]


- onde tem cafeteira aqui?

(alô, produção? o mundo está ao contrário e ninguém reparou? peraí, o o movimento é muito parecido com o das casas bahia, mas oi, cafeteira?)

- cafeteira?

- isso, onde tem?

(síncope)

- mas nós não temos cafeteiras aqui, senhora.

- como não? lá na outra loja de vocês, do centro da cidade, tem!

(ai, tô confusa)

- cafeteira? tem certeza?

- tenho! eu sempre pego uns livros e fico lendo lá.

(e aí, quer pagar quanto?)

- ah, o café.

manual prático de bons modos em livrarias: quando eu era mais nova, meu sonho era abrir uma livraria com uma CAFETERIA dentro. mas depois de trabalhar tanto tempo em um lugar assim e encontrar livros pingando café, sujos de comida, etc., eu desisti da idéia. se o freguês ainda fizesse a gentileza de pagar pelo livro danificado, mas não, é sempre aquela velha história do "não vi, não sei e tenho raiva de quem sabe". na minha livraria, freguês vai ter que entrar de luvas ou a palmatória vai rodar. eu sou do tempo da ditadura.
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