[puro amor]




delírio compartilhado pela freguesa daniele cristyne.

freguesa: moça, tem esse aqui, só que do corinthians?

manual prático de bons modos em livrarias: gente, sério, amo vocês. e o botão "ironia" nem está ligado.

[clarice xavier]

tô aqui psicografando umas paradas


nove dias para o fim do mundo, graças a deus. livreira tem certeza que já está morta, no inferno, por motivos de: muito calor, socorra. daí a freguesa, uma linda, toda trabalhada no sotaque (sotaque mineiro, melhor sotaque sim ou com certeza?), aborda o livreiro em busca de novas emoções literárias. ó:

freguesa (olhando para a mesa de lançamentos): moço, eu sou de minas, então quero saber o que tá bombando aqui na cidade de vocês?

(o que tá bombando na cidade? o sol, minha senhora, o sol)

livreiro: olha, de novidade, nós temos...

(livreiro mostra uma dezena de livros para a freguesa, que não vê graça em nenhum)

freguesa: ai, eu quero ler algo bom. o que você me indica?

livreiro: a senhora já leu clarice lispector?

freguesa: CLARICE? DEUS ME LIVRE, DETESTO CLARICE LISPECTOR.

(ai, gente, sabe. ok, tudo bem não gostar de clarice, mas dói o coração quando alguém fala isso como se fosse a coisa mais natural do mundo? tá, é normal, mas gente?)

livreiro: não gosta da clarice, é?

freguesa: DETESTO. DETESTO LIVRO ESPÍRITA.

(BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM)

manual prático de bons modos em livrarias: delírio é pouco. "clarice autora de livros espíritas" ainda não tem nome. sério, podemos encerrar 2012, o mundo, a vida.

[a vez do freguês]





dor compartilhada pelo freguês pedro de moraes lá na nossa comunidade hippie. e, olha, apaixonada pelo senhor gabriel garcia marquez, quase tive um derrame ao ler o causo. socorra, produção. alô, bombeiros. e, pedro, seu lindo, nem precisei mexer no seu texto, cê aprendeu direitinho a lição. muito: amor. vem, gente:

freguês: boa tarde, moça! você tem algum exemplar d'o amor nos tempos do cólera, do gabriel garcia marquez?

(livreira digita o título no terminal e puxa assunto ao mesmo tempo)

livreira: você gosta de histórias de amor?

(sim, também gosto de histórias de diarreia intensa)

freguês: ah, até gosto, mas esse vai de aniversário pra minha cunhada.

livreira: então, tô vendo aqui que não tem esse aí que você pediu. está atrás de mais algum específico?

freguês: hum... nenhum que eu lembre. tem alguma sugestão?

livreira: como você tá atrás de romances, por que não leva o cinquenta tons de cinza?

(peça Garcia Marquez e ganhe em troca E.L. James. fair enough.)

freguês: ah, não sei se esse é o tipo de livro que eu daria de presente.

(disfarço sarcasmo com puritanismo)

livreira: que tipo de livro você daria de presente?

freguês: o amor nos tempos do cólera.

livreira: uai, não dá no mesmo?

freguês: ...

manual prático de bons modos em livrarias: cara livreira, don't. just don't.

[das estantes que não existem]



e depois dos livros porcaria, a freguesia andou se reunindo por aí para criar mais seções psicodélicas na livraria. acompanhem.

causo 1) 

freguês: moça, onde fica a parte de criatividade?

(livreira olha para o freguês e pensa em responder: "na cabeça?")

causo 2)

freguês: onde fica a seção de cotidiano?

livreira: cotidiano?

freguês: é, de gravidez.

(sim, porque engravidar faz parte do dia a dia)

causo 3)

freguês: moça, por favor, onde fica a parte reservada da livraria?

livreira: você está procurando a reserva?

freguês: não, a parte reservada mesmo, eu quero comprar dvds de conteúdo adulto.

manual prático de bons modos em livrarias: imagina na copa.

robin hood futebol clube, só que não



freguesa: moça, bom dia. eu preciso presentear um garoto de dez anos, ele gosta bastante de futebol.

(vocês que dão 'bom dia' para o livreiro e conhecem a pessoa para quem vai dar o presente: muito amor)

livreira: ah, legal, você quer dar algum livro de time de futebol? 

freguesa: não.

(alá, cabô amor. mas só melhora, prometo)

livreira: hm, e o que você tem em mente?

freguesa: ah, não sei, queria alguma coisa sobre cultura...

livreira: sobre a cultura do futebol?

freguesa: não, algo tipo robin hood.

(HAHAHAHAHHAHAHAHAHHA)

livreira: tipo robin hood, sei.

manual prático de bons modos em livrarias: quem trabalha no setor infantil de uma livraria, além de fazer cosplay de recreador infantil, sabe que a maioria dos fregueses chega pedindo as coisas mais absurdas do universo. te dou um exemplo? "ah, eu queria um livro de adulto, só que com linguagem para crianças". bang.

[alou?]

(ai que bode)


domingo pós-feriado e a livraria em ritmo de beto carreiro world (está permitida a interpretação livre). para ajudar no climão maneiro, o telefone, esse objeto inventado no inferno, não para de tocar. entre um atendimento e outro, livreira puxa a ligação e:

livreira: livraria x, boa tarde?

freguesa: BOA TARDE, PRECISO DE UM LIVRO DE BOLSO PARA DAR DE PRESENTE.

(amo/sou gente que dá livro de bolso de presente. tão baratinho, né? tão jeitosinho, né? tão "gasto dinheiro com feijoada enlatada, mas não gasto com livro", né? livreira indica e fala sobre "a insustentável leveza do ser")
freguesa: tá, pode ser. você pode me indicar mais dois?

(livreira, então, indica "lolita" e "as boas mulheres da china")

freguesa: ah, ótimo. agora só preciso que os autores sejam português, espanhol, italiano, alemão e inglês.

(que isso, festa das nações? e falar antes para quê, freguesia? resposta: paraguaio)

livreira: ai, minha senhora, mas o nabokov (lolita) é russo e a xinran (as boas mulheres da china) é chinesa.

freguesa: e o autor do outro livro que você me indicou?

livreira: o do milan kundera? sei não.

freguesa: espera, tô com o google aberto aqui.

(a senhora me jura que pensou no google só agora? a senhora está de deboche ou a senhora está de deboche? cinco minutos depois, a freguesa revela a nacionalidade do escritor)

freguesa: moça, ele deve ser erudito. tá escrito aqui que a família dele é ERUDITA.

manual prático de bons modos em livrarias: silêncio. apenas o silêncio.

[neil jung]

 

amor [doído] compartilhado por livreiro paulistano, que acompanhou o causo de longe.

final de semana com livreiros e fregueses surtados sim, russomano e eduardo paes não. freguês entra na livraria à procura de amor e encontra algo tipo empada de carne humana vendida a cinquenta centavos, ou seja, atendimento #fail. segura na minha mão, porque o negócio tá cada vez mais puxado.

freguês: boa tarde, você tem aí a biografia do neil young?

livreiro: fica lá em psicologia.


freguês: ahn? em psicologia? mas o neil young?

livreiro: NÃO!!! foi mal.

(pronto, passou, foi só um susto)

livreiro: na verdade, fica lá em psicanálise.

(meu deus, o ar que eu respiro meu deus. livreiro amigo, simule um desmaio, passe a bola, finja que está possúido, qualquer coisa, bicho. melhor, silêncio, mantenha o silêncio)

freguês: amigo, estou falando do NEIL YOUNG e não do JUNG.  tá fácil trabalhar aqui, hein? tão contratando qualquer um.

(vish)

manual prático de bons modos em livrarias:
tem nada fácil não, freguesia, tá é difícil. alguém me serve um bom drinque sem gelo? obrigada.

[essa tal de literatura]




freguesa: moça, onde ficam os lançamentos de literatura?

(alô, ali em lançamentos, na entrada da livraria?)

livreira: vamos até lá. cê tá procurando alguma coisa específica?

(arranjar sarna pra se coçar. quem nunca?)

freguesa: não, nada, só queria ver o que tem de novo.

livreira: romance mesmo?
 
freguesa: não, literatura estrangeira.

(dancinha para a freguesa sim ou claro?)

livreira: sim, mas você quer um romance, um livro de contos ou...

(freguesa, aquela linda, não me deixa terminar a pergunta)

freguesa: literatura de filosofia.

(deus, como não amar?)

manual prático de bons modos em livrarias: literatura de filosofia. beijo, night shit. <3

[augusto, o filósofo] 



tem gente que me pergunta qual é a diferença entre vender livros e ser revendedora dos produtos jetiqui. respondo aqui: no segundo caso, você tem chances de conhecer o silvio santos; sendo livreiro[a], você só corre o risco de conhecer freguesas como a do causo a seguir, uma exímia leitora de filosofia, só que não:

freguesa (acompanhada da amiga): por favor, onde é que eu encontro os livros do augusto, aquele filósofo brasileiro?

(livreiro percebe que a freguesa quer apenas mostrar para a amiga o seu altíssimo nível intelectual e, ai, preguiça de continuar esse atendimentzzZZZzz)

livreiro: augusto, filósofo brasileiro?

freguesa: é, moço, augusto qualquer coisa.

(ZzzZZ livreiro imagina que a freguesa possa estar confundindo brasileiro com francês, livraria com padaria, qualquer coisa com qualquer coisa, e tenta ajudá-la)

livreiro: não seria o auguste comte?

freguesa: auguste comte? não, moço, é outro augusto. é um filósofo importante, um dos mais conhecidos, está sempre na lista dos mais vendidos. ai, moço, como assim você não conhece?

("outro augusto", "como assim você não conhece?" livreiro conta até dez, respira, conta até trinta e devolve a pergunta)

livreiro: AUGUSTO CURY, senhora?

freguesa: poxa, demorou, hein?

("DEMOROU, HEIN")

livreiro: ah sim, os livros dele estão lá em AUTOAJUDA.

freguesa: como assim em "autoajuda"?

(livreiro sai de cena em busca de revistas velhas para responder a pergunta da freguesa com uma colagem artística. desenhar é coisa do passado)

manual prático de bons modos em livrarias: freguesia, como alguns sabem, o [manual] vai ser transformado em livro (eba!). portanto, o blog e o twitter vão ficar temporariamente sem suas fréneticas atualizações (é por pouco tempo, por favor, engulam o choro). mas a gente vai se falando lá na comunidade hippie. e quem quiser mandar causos para o livro (fregueses e livreiros), o caminho do bem é o de sempre: hillepuonto@gmail.com ; ) 
[por onde anda clarice? tá tão sumida essa menina]


"tô em casa, bolando frases pro facebook de vocês" 


[amor compartilhado pela freguesa carol beraldo]


(ingredientes para um delírio inesquecíver: lançamento de editora grande, bons drinques de graça e autora de internet. só digo uma coisa: berenice, segura. ou melhor, serra, segura. segurem todos porque a freguesa anotou a receita direitinho e caprichou no bobó de alucinação)

freguesa: olá, quem é que vai lançar livro hoje?

(fregueses que olham a página de eventos da livraria na internet antes pedir informações: amamos vocês)
 
livreiro: ah, é o benjamin moser. ele escreveu uma biografia da clarice lispector.

freguesa: e ela vem?

(discando emergência 190. discando emergência 190.)

livreiro: ela quem, senhora?

freguesa: a clarice, moço.

(chamando reforços. repetindo: chamando refor...esquece, livreiro já entrou em coma)

manual prático de bons modos em livrarias:  recomendamos aos senhores fregueses o uso diário e sem moderação do site "quem morreu hoje". sem mais,

Night Shit


britney: anos e anos de 'night shit'


freguesa: boa noite, tem aquele livro 'night shit'?

('noite de merda', é isso mesmo, galera do fundão?)

livreira: a senhora poderia repetir o título, por favor?

freguesa: n i g h t - s h i t

(livreira consulta o título solicitado pela freguesa e fuén fuén fuén)

livreira: senhora, tem certeza que...

freguesa: ai, menina, é aquele famoso... 'quando night shit chorou', que virou filme até.

(OLHA)

manual prático de bons modos em livrarias: tudo bem não saber a pronuncia do nome de fulano ou beltrano, tudo bem mesmo. problema é inventar e ainda querer sambar na cara da sociedade livresca. daí rola uma mágoa, daí rola um rancor. 


em tempo: aos malas de plantão que estão reclamando da tradução do termo 'night shit', meu mais sincero e carinhoso bocejo.
[josé luís peixoto x manual prático de bons modos em livrarias]





nem sei o que dizer, sério mesmo. leonardo mendes e priscila rezende, todo o meu amor e mais um pouco. obrigada.

update: deus pai, fiquei tão afoita quando vi essas fotos, que sequer apresentei o modelo. trata-se de josé luís peixoto, um dos meus escritores favoritos (dos escritores vivos, é o meu predileto). zé, que é português, esteve no brasil para participar da flip e passou por algumas cidades brasileiras (as fotos acima, uma brincadeira que me levou às lágrimas, foram tiradas em são paulo pela freguesa priscila, a pedido do freguês leonardo). tive a oportunidade de conhecer zé luís pessoalmente em sua passagem pelo rio de janeiro e, fregueses, há tempos a livreira aqui não ficava tão emocionada. quem me acompanha no twitter, sabe o AMOR que eu sinto pelas coisas que esse homem escreve (eu não falo em outra coisa há semanas) e quem já foi atendido por mim e pediu sugestão de leitura, certamente saiu da livraria com uma obra dele debaixo do braço. amor, gente. amor a lot. para quem nunca leu nada do sr. peixoto e ficou com vontade de conhecer, vá por aqui (poemas e retalhos) ou por aqui (romance 'morreste-me' na íntegra). e para comprar o último livro dele publicado no brasil (lindo, lindo, lindo), chegue mais pra cá

em tempo: eu disse que depois dessas fotos (e do meu encontro com zé), eu já poderia encerrar as atividades do blog. pensando bem, posso encerrar a minha participação na terra sem culpa nenhuma. sério mesmo.
[fernando who?]


dois causos rápidos para começar a semana? nando people tá dançando terere obande no céu dos escritores sim ou com certeza? bóra lá:


freguesa 01: boa tarde, tem aquele livro 'o homem nu' do fernando pessoa?

livreira: como?

freguesa 01: na verdade, é um conto dele, mas tem um livro também com esse nome.

livreira: do fernando sabino, né?

--

freguesa 02: oi, eu queria o 'antropologia poética' do fernando pessoa.

(a pergunta é: fritas acompanha?)


manual prático de bons modos em livrarias: a freguesia está como nosso amigo phdro: imparável.
[piratas da livraria - parte 2]

amor compartilhado pela freguesa.livreira luana


(cena: livreira trabalhando feliz e sastisfeista (não) em pleno sábado de sol. para ajudar, freguesa entra, diz que não precisa de ajuda, mas resolve testar os conhecimentos da trabalhadora nossa de todo santo dia)

freguesa: moça, esse livro é original, né?

(OH MEU FUCKING DEUS)

livreira: como assim, original?

freguesa: original, moça... ou ele é falsificado? porque uma amiga me disse que tem que tomar cuidado com livros falsificados que existem por aí.

(tiros de metralhadora disparados por anões)

manual prático de bons modos em livrarias: a amiga da freguesa deve ter falado sobre os livros com tradução 'pirata', suponho. mas gente, depois disso aqui, pouca coisa envolvendo pirataria me surpreende.
[jurema cravo e canela]

amor compartilhado pelo livreiro amigo hugo b.


(livreiro, no terminal de consultas do setor de livros esotéricos, observa duas freguesas conversando. uma delas pega o livro 'jurema', escrito pela autora mônica de castro, e dispara o delírio para a amiga ao lado)


freguesa: AAAAH, OLHA MARIETA (?) JÁ SAIU O LIVRO DA NOVELA DAS 11'.


manual prático de bons modos em livrarias: gabriela das matas, do jorge amado, também já está à venda. corrão!111!!1
 [mais tomadas, por favor]



freguês: moço, tem tomada aqui?

livreiro: tem sim, lá em cima do lados das poltronas.


freguês: mas tem aquela de três pontas?


(livreiro leva o freguês até a tomada localizada no chão ao lado da poltrona)


freguês: não, não é isso.

(ué, tomada agora mudou de nome?)

livreiro: não?

freguês: moço, vocês não vendem tomadas aqui?

manual prático de bons modos em livrarias: fregueses, alguns livreiros podem até negociar o corpo, mas tomada ainda não é algo que vendemos (ainda) em livrarias. 
[esses cineastas aí tudo]


                                                                               tsctsctsc

é ainda manhã, a livraria está vazia e tudo parece caminhar para a santa paz. PÉIN, ERRADO. freguesa, ofegante, aborda a livreira, pois está interessada em saber mais sobre a sétima arte:

freguesa: moça, o que você me indica de livros de cinema? eu gosto muito do RICÓQUE, por exemplo.

livreira: desculpa, mas quem é ricóque?

freguesa: ai, aquele diretor de filmes de terror.

(HAHAHAHAHAHAHA)

manual prático de bons modos em livrarias:
hitchcock, seu lindo, dá cá um abraço.
[que mário?]

  amor compartilhado pelo freguês vinícius ducatti <3

(cliente, senhorinha, pra lá de perdida na livraria)

freguesa: mocinho, você poderia me ajudar?

livreiro: claro, senhora, que tipo de livro a senhora está procurando?

freguesa: é um presente pra minha neta, ela gosta bastante de ler e também é escritora!

livreiro: olha, que legal! e a senhora sabe de algum autor ou gênero que ela goste mais de ler?

freguesa: não sei o que ela lê, mas sei que escreve romances!

 
livreiro: bom, então vou te indicar este daqui, vargas llosa, "travessuras da menina má". também sou autor e recomendo muito este livro.

(livreiro fala sobre o livro para convencê-la. freguesa decide levar a obra, caminha em direção ao caixa e todos vivem felizes para sempre, só que não. após efetuar o pagamento, a freguesa volta...)
 
freguesa: mocinho, por favor, você podia escrever uma dedicatória pra ela?

livreiro: oi?

freguesa: escreve aí alguma coisa inspiradora pra ela, sabe, pra dar vontade dela ler o livro!

(comassim???)

livreiro: mas... escrever o quê? não é meu livro, nem sei o nome dela!
 
freguesa:  você não é escritor? então pensa em alguma coisa! (ba dum tiss!) e o nome dela é X.
 
livreiro: tá bom, senhora...

(livreiro escreve uma dedicatória no livro de outro autor pra uma potencial leitora que nunca conhecerá na vida. e aí, então...)

freguesa: mas você não vai assinar?

livreiro: OI???

freguesa: oras, escreveu a dedicatória, tem que ter assinatura!

livreiro: mas pra que ela vai querer um rabisco de um desconhecido no livro dela?

freguesa: ah, finge que é o autor e faz uma rubrica!

manual prático de bons modos em livrarias: atendemos a freguesia, o telefone, guardamos livros, aguentamos a sociedade sambando na nossa cara e ainda fazemos cosplay de escritores. como não amar a gente?
[meu pé de laranja azedo]

 mas meu deus do céu.

(ôtro causo telefônico)

livreiro: livraria, boa noite.

(veja bem, faltava meia hora para o expediente terminar. veja-bem-meu-bem)

freguês: boa noite, tem o livro "o meu pé de laranja lima"?

livreiro: só um instante, por favor.

(livreiro vai até a estante confirmar a disponibilidade do item e retorna ao telefone)

livreiro: tá na mão, quer deixar reservado?

freguês (tom desesperado): cara, me diz, quem é o autor desse livro?

livreiro: é josé mauro de vasconcelos.

freguês: CARA, OBRIGADO, é que eu tô fazendo palavras cruzadas aqui em casa e...

manual prático de bons modos em livrarias: pelo amor de deus, galera. sério, pelo amor de deus, alá, meu bom alá, pelo amor de buda e, principalmente, pelo amor do bob dylan:não.

[te amo, só que ao contrário]

BÚ!

(causo telefônico)

livreira: livraria, boa tarde?

freguesa: mocinha, boa tarde. meu bisneto vem me visitar no final de semana, e eu quero ENTRETENIMENTO (ora, pois). já comprei lápis de cor, cartolina, confete, essas coisas, sabe?

livreira: sei.

freguesa: então, eu queria uns livros de criança, assim, bem baratinhos... o que você me sugere?

livreira: mas o que a senhora considera barato?

freguesa: ah, uns nove reais.

livreira: olha, por menos de dez reais não tem nada, viu.

freguesa: então me diz o que tem aí ATÉ 15 reais.

(ai, minha senhora, cê me jura mesmo?)

livreira: bom, tem uns livros de uma editora que são bem bonitinhos por R$14,90...

freguesa: certo, me fala o título de todos os que você tem aí.

(minha senhora, foi meu ex que pediu para a senhora me encontrar no rio de janeiro e infernizar a minha vida? pode ser sincera)

livreira: são muitos, mas vamos lá, posso falar o nome de alguns...

(livreira pega uma meia dúzia de livros e começa a falar os títulos para a freguesa)

freguesa: qual foi o último que você falou?

livreira: "hora de ir pra cama".

freguesa: MINHA FILHA, ESSE AÍ NEM PENSAR. EU NÃO QUERO QUE AQUELA PESTE DURMA AQUI EM CASA.

manual prático de bons modos em livrarias: imagina que amor deve ser dormir na casa dessa senhora, só que não.
[ - moça, o que precisa para trabalhar em livraria?]


a pergunta foi feita por um ex-ativista italiano (agora nosso colega de trabalho) e é repetida, diariamente, por diversas pessoas que acham que trabalhar em livraria é quase como ganhar na raspadinha. nós, livreiros, sempre ficamos meiq sem reação, afinal, não é exigido muita coisa: amar já é o suficiente. selecionei as melhores respostas do nosso concurso cultural e deixei para o final o vencedor da biografia da clarice. olhaí:

- moça, o que precisa para trabalhar em livraria?

"dois hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelhim!", camila pio

"de um currículo", paulo afonso sanches

"precisa compreender que ainda existe no seculo XXI brasileiros que nem ao menos ouviram falar de clarisse lispector, essa deusa das crônicas de estilo unico e meio louco.", érica pires

"é preciso ter uma experiência de longa data na rehab e, se possível, um peixe.", luiz gustavo osório xavier

"ter músculos desenvolvidos para carregar os livros pra lá e pra cá; memória pra saber quem escreveu o quê; conhecimento sobre a grafia dos nomes dos autores; traquejo pra lidar com pessoas difíceis e responder perguntas bobas e muito bom humor pra receber o contracheque.", nayara peneda tozei

"precisa de um guia e uma toalha. só os fortes entenderão.", juliana assunção

"uma bacia, dois limões, uma câmara de pneu de bicicleta e três chuchus.", rafaela costa e silva

"não ter participação no incêndio da antiga biblioteca de alexandria, e ter, no minimo, 6 meses de experiência trabalhando no circo.", genyedi soares

"precisa ter porte de arma, pra saber quando e onde usar, sem ferir inocentes.", mei ri

"precisa ser meio puta velha - ganhar pouco, trabalhar em horários estranhos e todo ano jurar que vai largar essa vida.", paula renata borges

"é preciso ter phd no "você quis dizer" do google.", mariana melo

"amor líquido com álcool", joão paulo francischini

"saber a resposta para a pergunta: 'moça, aqui vende livro?'", thais almeida

"mais humor que paciência / mais amor que sapiência.", akemi mitsueda

"é preciso não gostar de ler, mas fingir conhecer os livros que não leu.", luiz fernando alves

"não precisa de nada. venha vazia, porque o tanto que eles vão te encher.", ana carla de souza

"precisa ser subversivo da cabeça pra dentro e gentil da boca pra fora.", fabrício pacheco

"três anos de prática como encanador ou dois como açougueiro, este último se for para vender livros infantis.", thiago morini

"um psicanalista no rol das amizades.", sávio alencar

"trazer a pessoa amada em três dias", hugo avelar

"malemolência, futebol moleque e sangue nozóio.", laurinha guimarães

"desnecessário, somente o desnecessário.", je suis adiplomatique

"precisa de vida, pra acabarem com ela.", ana carla de souza

"um monte de 'manual prático de bons modos em livrarias' para jogar na sacola dos clientes lyndus!", larissa almeida

"habilidade com camuflagens será diferencial", isabela vieira

"ao invés de tratos com o divino, desses luxos do pensamento, deves é fazer um café!", carolina mendes soares

"conhecer todas as flores do leste do Tibet.", rodrigo moncks

"42.", guilherme miranda

"saber que o livro vermelho, aquele moça, tava ali na mesa semana passada, ai não sei o autor, nem o assunto e nem o título mas, ai, moça não deve ter tanto livro com a capa vermelha. tava ali, na mesa. só que a capa era azul.", roberta irizaga dachery

"permanecer de ressaca.", flávia santos

"uma adega de muita paciência engarrafada e um tradutor simultâneo de palavras ininteligíveis.", marina orpinelli

 "conhecer toda a palheta de cores, tamanhos e variantes de nomes de cada autor. a venda e um processo de mistura de informacoes visuais e cruzamento de palavras. o

autor isaac asimov pode ser pedido como: Zaqueu Azamut, Zack Assis, Isa Assim Move e outras variantes", william okubo

"desconfiômetro, pó de perlimpimpim e algum rebolado.", alcides da silva lima

"não sei... isso é um açougue.", henrique valverde

"eficiência. e por eficiência, leia-se a habilidade de ler mentes e lembrar de frases que nunca leu. é muito requisitado.", thais batista suri

"all you need is love.", marco túlio

"precisa ser brasileiro porque jogo de cintura e malandragem são essenciais.", aline veras

"é preciso amar as pessoas como se não houvesse critério", luiz fukushiro


AND THE OSCAR GOES TO:

"precisa ter paciência e aceitar enxergar a realidade como um programa do chaves, uma eterna repetição, repleta de obviedades, confusões nos nomes, insistência no "o que foi que eu disse? mas como é que é?" ter a insustentável leveza pra compreender que "o inferno são os outros", mas que você sempre deve sorrir, afinal, o enxergam como um livro de auto ajuda ambulante. e, principalmente, apesar de todos os absurdos na procura de livros e autores, não dá pra ir em busca do tempo perdido.", nayara moura

manual prático de bons modos em livrarias: vale imprimir as respostas e entregar aos novos livreiros de plantão. nayara, você tem até o dia 15 para mandar seu endereço para hillepuonto@gmail.com. você receberá o livreto em su casa, todo cheio de amor.
[u dois]


gozado, né?

- boa tarde, eu tô procurando um cd para dar pro meu neto... é de uma banda com nome estranho, acho que o nome eram duas letras.

- U2, senhora?

- como é?

- U2? (you too?)

- ai, não sei.

- U2? (u dois?)
 
- isso! era essa mesma! U2! (u dois!) nome gozado, né?

- Ô...

manual prático de bons modos em livrarias: fregueses gozadores, amamos vocês sim, claro ou com certeza?
[meu primeiro manual prático de bons orgasmos] 

- mas gente,

sábado de sol. livraria está cheia de amor e gente creize, pra variar. logo no início do expediente, livreira dá de cara com uma freguesa perdida e que, toda trabalhada no carão, não sabe se está em uma livraria ou em um desfile de moda outono-inverno. livreira, à procura de altas emoções, resolve abordá-la.

- moça, tudo bem? você procura algum livro específico?
 
- LIVROS SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL PARA CRIANÇAS.

(rapidinho aqui: "bom dia", "por favor" e "obrigada" caíram com a reforma ortográfica da boa educação?)

- claro, vamos lá.

(livreira leva a freguesa até a estante onde estão os livros sobre educação sexual e mostra alguns títulos)

- qual a idade da criança?

- sete anos.

- olha, tem ES...

- EU QUERO UM LIVRO QUE FALE SOBRE ORGAMOS PARA CRIANÇAS.

(mas gente)

- só sobre orgasmos?

- é, me mostra o que você tem aí de livros infantis sobre orgasmo.
- então, senhora, acho que não existe um livro só sobre orgasmos voltado para o público infantil.

- NÃO?

- olha, eu realmente não conheço.

- ENTÃO EU VOU ESCREVER UM. NINGUÉM FALA SOBRE ORGASMOS COM A CRIANÇADA, NÉ?

(mas gente)

manual prático de bons modos em livrarias: gozei.
-
[quando nit chorou]


freguês entra, cumprimenta a livreira, tira um papel do bolso e "por favor, quero dar uma olhada nos livros desse autor".


BANG. 


manual prático de bons modos em livrarias: nietzsche não chorou, nietzsche não entristeceu. nietzsche ficou chatiado, chatiadérrimo, chatiadíssimo.
[01ANO GENT] 




<3 MUITO AMOR APENAS OBG A TODOS OS ENVOLVIDOS <3

 [cara, cadê meus óclos?]



terça-feira ensolarada na cidade do cristo. as mina pira. enquanto arrumo a estante de literatura brasileira, uma simpática senhora pede auxílio para encontrar um livro. ela, claro, não sabia o título e tampico o autor.

- entendo, mas a senhora sabe a história do livro?

(achei melhor não relatar a conversa, afinal, leitor fiel do manual já conhece a ladainha)

- minha filha, deixa eu te contar. semana passada foi meu aniversário e eu comprei um óculos para me dar de presente. fiz 82 anos e achei que merecia, sabe?

(alô, mudo de assunto gosto de azul? freguesa tira os óculos da calvin klein e me mostra todos os detalhes, porém há um certo tom de indignação na sua voz)

- é, bem bonitão. e o livr...

- mas daí eu fui numa ótica pra trocar as lentes e o rapaz trocou as perninhas dele, ó.

(gente? as ~perninhas~ eram originais, com o CK e tudo)

- a senhora tem certeza? porque o CK ainda faz parte da armação.

(freguesa muito, mas MUITO indignada, rebate)

- tenho sim, quando eu comprei não tinha esse CK. mas sabe o que é? é uma gangue que rouba tudo nessa cidade, inclusive perninhas de óculos.

- como assim?

- é, filha, eles trocam as perninhas originais e revendem depois.

manual prático de bons modos em livrarias: freguesia linda, o blog comemora um ano no dia de hoje e resolveu comprar perninhas contrabandeadas para distribuir entre os leitores. aproveitem! e, não esqueçam, em caso de emergência com os óculos, por favor procurando o livreiro mais próximo.
[que ano é hoje?] 




traduzido em mais de 203930 países, adapatado para o cinema, sucesso de bilheteria aquil, lá e em todo lugar, dois mil e doze e a freguesa, com o segundo volume em mãos, olha pra mim e pergunta: 

- esse livro faz parte de uma série?
 

manual prático de bons modos em livrarias: tudo bem, todo mundo tem o direito de viver na lua, mas para o bem geral da nação, recomendamos a leitura da sinopse (geralmente encontrada na contracapa do livro) e o uso do bom senso.





 ÓZZZZZZ



- mocinha, por favor, tô precisando de um livro que termina com "OZ"

(a senhora me jura que essa é uma pergunta real?)

- o mágico de oz?

- não, não é esse. mas tem "OZ" no final sim, viu? a escola que tá pedindo.

(livreira olha para a freguesa e pensa em responder: "não parece, mas meu olhar tá pedindo pra senhora sair daqui". desiste, afinal, o aluguel vence no dia cinco).

- a senhora quer "o labirinto dos ossos"? (livreira muio bonita, esperta e inteligente, lembra que vários outros pais encomendaram o ditocujo. além de confirmar o título, livreira mostra um exemplar para a freguesa)

- ai, bem, não sei. acho que não é isso não. terminava com ÓZ, não ÓSSOS.

(risos, só que não)

manual prático de bons modos em livrarias: sim, era o 'labirinto dos ossos' e, meu deus, com um QI desse eu podia tá tendo a vida do hawking hoje, não vendendo livros dele. beijo freguesÓS.
[quem é o cantor?]


daí eu estava num sebo dia desses, procurando algo por menos de dez reais (e achei!), quando escuto a seguinte conversa entre um livreiro ~pareço moderno~ e um freguês:

- moço, boa tarde, tem alguma coisa do kraftwerk aí?

(livreiro faz cara de "meu filho, kraftwerk é de comer?" e dispara)

- hmm, você o nome de algum livro dele.

(freguês, um cadinho constrangido, tenta consertar a situação)

- não, moço, é banda.

- ah, uma banda. e é banda de róque?



manual prático de bons modos em livrarias: kant comigo, dance comigo.

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