[atendimento marcante]




- oi, com quem eu posso falar sobre livros com defeito?

- pois não?

- então, é que eu comprei esse livro já tem um tempinho, só que estão faltando as últimas páginas.

(livreira verifica o estado do livro e percebe que as últimas páginas estão realmente em branco)

- sim, as últimas páginas estão em branco, nós podemos fazer a troca. a senhora vai levar um exemplar da mesma obra?

- olha, eu não queria trocar. eu queria apenas as páginas que estão faltando.

- como assim? (como assim, bial?)

- é que eu já fiz algumas anotações no livro e não quero perdê-las.

- entendo, senhora, mas não é possível fornecer somente as páginas que estão faltando.

- mas a culpa é de vocês! vocês me venderam o livro com defeito.

(daí explicar que o problema é da editora...)

- olha, nós podemos fazer a troca, como falei anteriormente. o que não podemos fazer é dar as páginas que estão faltando no livro. não é possível, infelizmente.

- mas vocês podem xerocar as páginas de um exemplar sem defeito, oras. vai, não custa nada.


manual prático de bons modos em livrarias: nam-myo-ho-ren-gue-kyo nam-myo-ho-ren-gue-kyo nam-myo-ho-ren-gue-kyo nam-myo-ho-ren-gue-kyo nam-myo-ho-ren-gue-kyo nam-myo-ho-ren-gue-kyo


post dedicado à freguesa @juju_gomes, que adora fazer marcações em seus livros. e você, freguês, também gosta? curteaqui. e aqui você encontra uma matéria bem legal sobre o possível fim das tais anotações à margem dos livros. :)
[dako é bom na livraria]


quem trabalha (ou não) no comércio, sabe a loucura que é a época natalina. todo mundo quer ser atendido ao mesmo tempo. todo mundo deixa a paciência em casa e corre pro varejo. êêê. pois bem, a cena a seguir ocorreu dois dias antes do natal, ou seja, quando o caos imperava na livreira.

(freguês, com uma sacola da concorrência, para em frente a um livreiro e retira um livro da mesma sacola)

- você pode embrulhar para mim?

(livreiro, desconfiado da situação, questiona)

- mas o senhor comprou aqui?

- não. é que eu esqueci de embrulhar na livraria onde comprei e é para presente. natal, né?

manual prático de bons modos em livrarias: "natal, né?" olha, de verdade, se fosse um fogão dako, a gente até embrulhava, sério mesmo. porque a gente tem certeza que se alguém aparecesse nas casas bahia com um livro, a empacotadeira não pensaria duas vezes e embrulharia.
[a vez do freguês - parte 2]


nossas freguesas cláudia esteves, mariana mourente e thays hungria, essas loucas (♥), descobriram que existe, SIM, mapas de viagem à prova d'água (não sabe do que estamos falando? dá uma clicadinha aqui). sim, mapaS. duvidam? olhem só aqui e aqui.

manual prático de bons modos em livrarias: pra não ficar feio pro nosso lado, encontramos uma BÍBLIA À PROVA D'ÁGUA.
[tudo junto e misturado - parte 3]

quem nos enviou o causo foi a colega de labuta renata brabo, lá de belém. a gente agradece o amor compartilhado! ♥



- porran


- oi, eu queria um livro daquela MULHER, a eça de queirós.

(cantem com a gente: oh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh-oooh-oh-oh-oh reading a bad romance)

- não seria do AUTOR eça de queirós?

- lógico que não! é uma autora nordestina conhecidíssima. (esnobando, claro)

- bom, eça de queirós era português. o senhor não está procurando os livros da RACHEL DE QUEIROZ?

(freguês, pra variar, indignado) - tá, tá, me mostra os livros dessa outra aí, vai que eu gosto.

manual prático de bons modos em livrarias:
embora o sorriso da rachel seja IGUAL ao do eça, acreditem, são de pessoas distintas.
[à procura do bons drink perdido]



(seção infantil. tarde de sábado. livreira recolhe os livros espalhados pela meninada e, no meio da bagunça, encontra um copo cheio de suco. sem pestanejar, joga o objeto no lixo)

(três horas depois)

- moça, eu deixei meu suco aqui. você viu?
- suco?
- é, já faz um tempo. meu filho estava olhando uns livros e eu acabei esquecendo meu suco aqui.

(quem, meu deus, quem em sã consciência volta em uma livraria, em uma tarde de sábado, três horas depois, para procurar um copo de suco?)

- ahhhhh. eu joguei fora.
- você jogou meu suco fora? (indignadíssima)
- mas a senhora deixou ele aí, como é que eu ia saber?
- eu não deixei. eu E S Q U E C I.
- então, eu pensei que fosse lixo.
- lixo? o copo estava cheio!
- olha, ele ainda deve estar na lixeira, você quer?
- POR FAVOR!

(livreira vai até a lixeira, pega o copo de suco "esquecido" pela freguesa e o entrega. depois daquele dia, ela guarda tudo o que encontra pela livraria, inclusive o bom senso perdido por algumas pessoas)

manual prático de bons modos em livrarias:
quer dar uma olhada naquele livro sensacional e não sabe onde colocar aquele desagradável copo de suco/café/vitamina/água/refrigerante/vódka/sopa/bonsdrink? a gente ensina: consuma o conteúdo, jogue o copo fora e... HAVE FUN!
[a reforma do português]



- moço, onde ficam os livros em português?

(é quase como entrar em uma padaria e perguntar onde ficam os pães)

- você está procurando algum título específico?
- os livros de literatura portuguesa.
- ah sim, vamos lá que eu te mostro.

(livreiro leva o freguês até a seção de literatura portuguesa)

- moço, mas aqui só tem nome brasileiro!

manual prático de bons modos em livrarias: de acordo com a nova reforma ortográfica da língua portuguesa, todos os nomes escritos em português de portugal passam, agora, a ser escritos em português brasileiro. logo, quem era josé passa a ser josé e assim por diante. estamos claros? que bom.
[a vez do freguês]


recebemos um e-mail do freguês alexandre guedes e achamos que seria interessante compartilhar com vocês, afinal de contas, comemos uma bola razoavelmente grande. no entanto, isso é mais recorrente do que vocês imaginam. é tão recorrente que as situações descritas aqui, às vezes, ficam no chinelo perto das coisas que falamos (mas daí cabe a vocês criarem um "manual prático para livreiros distraídos". a gente merece. ô se merece).

para citar um exemplo rápido: uma vez, uma freguesa me perguntou se tínhamos o filme "a levada da breca", clássico de 1938, e eu, franguinha lá na livraria, perguntei se era sobre aquele seriado que passava no sbt "punk, a levada da breca" (hahahaha!). é claro que a freguesa riu e até hoje deve contar para os amigos.

segue o e-mail do alexandre, que virou nosso primeiro freguês-ídolo:

"Boa noite.
Conheci hoje seu blog - via folha - e ao ler as postagens mais antigas, vi um post onde se narra a procura, por um fregues, de uma BIOGRAFIA de sherlock holmes.

Embora tenha rido muito e não tenha duvidas de que o cliente pediu errado, como a tag era "livros inexistentes" me senti obrigado a lhe dizer que EXISTE uma biografia (ficticia) de sherlock holmes - mas em edição portuguesa; eu mesmo comprei lá no ano passado.
Se não acredita, lá vai a ficha: "A biografia de sherlock holmes - cavalheiro, genio, detetive" Autor: W.S. BARING GOULD. Editora: Sáida de Emergência (Camões e Companhia" - www. saidadeemergencia.com, 2010.
(...)

No mais, gostei muito de seu blog e já o coloquei em meus favoritos. Continue assim (e como fregues assiduo de livrarias, espero nunca mais fazer a pergunta "vc trabalha aqui ?" em sua homenagem.)

Obrigado,
ALEXANDRE"
[o bem amado]



nosso manual, sempre pautado pela seriedade (hahaha), saiu aqui, aqui, aqui e aqui.

para agradecer tanto amor, vamos sortear um livro mimoso na nossa comunidade hippie. como? é só curtir.

[mentes perigosas na livraria]



- minha filha está tendo alguns problemas com os colegas da escola, acho que ela está sofrendo bulimia. você tem algum livro sobre o assunto?

manual prático de bons modos em livrarias: preciso trabalhar embriagada. vamos todo mundo pro bar?


[disk livraria]



- olá, eu queria um desses livros que estão na moda, aqueles de fazer pulseira, sabe? ele vem com uns fios assim, assado.

(livreiro pega uns "desses livros que estão na moda" e mostra para a freguesa)

- não, não. não é nenhum destes, mas é da mesma marca ("marca"). nós vimos nos estados unidos, mas não encontramos de jeito nenhum aqui no brasil

(livreiro, já com preguiça do diálogo que ele sabe que será travado logo mais, procura no site da editora e encontra o tal livro. no entanto, deixa claro que não é comercializado pela livraria)

- ah, e você sabe onde eu posso encontrar?

- então, talvez em outra livraria, de outra rede. talvez na livraria y.

- será? e tem como você entrar no site da livraria y e pegar o telefone deles pra mim?

- você quer que eu entre no site da livraria y e anote o telefone pra você?

- isso!

- desculpe, mas não posso.

- ah, moço, não precisa ligar. é só pegar o telefone que eu ligo do meu celular.

(carão)

- tá certo.

(livreiro anota o telefone da livraria y para a freguesa, que tenta confirmar se na concorrência o livro é comercializado. enquanto aguarda a resposta, a mesma freguesa lembra que precisa entrar no auditório, pois ali será realizado um curso no qual ela está inscrita)

- moço do céu!, fica aqui com o meu celular e vê aí o que eles respondem. é que eu preciso entrar para o curso que vai começar agora. pode ficar com o telefone, depois você me devolve.

(hahahahahahahaha)

manual prático de bons modos em livrarias: pedir a um livreiro que verifique o endereço/telefone da concorrência é tão deselegante quanto mastigar de boca aberta. outra deselegância telefônica? pedir para usar o aparelho porque só "fulano x" sabe qual é o nome do autor ou da editora do livro que você precisa. rir para não cortar os pulsos será para sempre o nosso lema.
[dante sem fronteiras]



- moça, você tem a divina comédia?
- de qual editora você quer?
- editora? não sei, mas o nome do autor é esse aqui ó (freguesa mostra a anotação com o nome do autor: "scipione")

manual prático de bons modos em livrarias: não fosse trágico, certamente seria divinamente cômico.
[alô bom senso?]



manual prático de bons modos em livrarias: a foto acima quase foi direto para a categoria "imagens que falam por nós", mas achei que precisava, sim, de uma explicação. vamos lá: quando um livreiro está em um telefonema, quase sempre, é porque ele está resolvendo um problema com/de algum freguês. a gente sabe o quanto é desesperador precisar de ajuda em um lugar e não encontrar ninguém, mas também não deixa de ser desesperador estar ao telefone e ter que lidar com uma pessoa te fazendo mil perguntas ao mesmo tempo ou te encarando com o semblante de "ou você me atende ou será o seu fim". a pessoa do outro lado da linha não tem a menor noção de que alguém espera para ser atendido. sendo assim, dê uma volta, olhe ao seu redor, pois é quase impossível que só exista um livreiro trabalhando. moçada, muita calma, o fim do mundo é só ano que vem.
[dia dos futuros namorados]


- então, eu gostaria de dar um presente para o meu futuro namorado ("futuro namorado"). ér, a gente ainda não ficou ("a gente ainda não ficou"), mas é que eu estou investindo na relação... ("estou investindo na relação")

- hm. sei.

(freguesa pega um livro de fotos eróticas de mulheres e começa a folhear)

- dá a entender que sou uma namorada descolada ("descolada") se eu der um livro desses?

- hm. sim.

(satisfeita com a resposta, freguesa decide, imediatamente, levar o tal livro)

- obrigada, você me ajudou bastante!

- hm. de nada.

manual prático de bons modos em livrarias: sabe o tipo de conversa que você só consegue prestar atenção em alguns trechos de tão absurdos que são? daí, quando a pessoa pergunta a sua opinião, você não encontra outro tipo de resposta que não seja "hm" porque aqueles pedaços marcantes continuam ecoando na sua cabeça? pois é.
[poker face. face book.]


alguns fregueses já descobriram nossa comunidade quentinha, acolhedora e com cheiro de pó dos livros. pra quem ainda não conhece, ela fica localizada aqui.

manual prático de bons modos em livrarias: nós é tipo bem jesus, todo mundo a gente ama. só não vale comer em cima dos livros e cuspir enquanto fala.
[here, there, anywhere]

é impressionante como os fregueses de livrarias são iguais (seja no bom ou no mal sentido) em qualquer canto do planeta. acabei de descobrir a série "blackbooks", que foi exibida no channel 4 entre os anos de 2000 e 2004.

a série mostra o dia-a-dia dos livreiros da pequena "blackbooks" e seus percalços com os habituais fregueses. divertidissimo. já assisti a maioria dos vídeos que existem no youtube e depois de muita procura, acabei encontrando a série para download aqui.

se você for livreiro, assista. se você for freguês, assista. se você estiver de bobeira em casa, assista. sério, vale muito a pena. agora, se você não é do tipo que tem paciência pra essas coisas, veja só isto aqui.
[a pergunta que não quer calar. e as repostas que gostaríamos de dar]



- você trabalha aqui?
- não.

- você trabalha aqui?
- não, estou tomando sol. não está um dia ótimo?

- você trabalha aqui?
- não, estou aqui só pela bebida.

- você trabalha aqui?
- não, vim à procura de prazer sexual.

- você trabalha aqui?
- não, vim só pra comer.

- você trabalha aqui?
- não, estou fazendo um laboratório para uma peça que irá entrar em cartaz em 2085.

- você trabalha aqui?
- não, comprei meu crachá em um brechó do centro.

- você trabalha aqui?
- não, eles estão distribuindo uniformes no piso superior.

- você trabalha aqui?
- não, eu apenas gosto de ficar sorrindo para as pessoas em uma livraria. quer um abraço?

- você trabalha aqui?
- não, é que eu gosto mais de carregar livros do que pagar academia.

- você trabalha aqui?
- como assim? aqui não é a rehab?

manual prático de bons modos em livrarias: num período de oito horas escutamos, pelo menos, a mesma pergunta umas 15 vezes. fregueses, nós amamos vocês. de verdade. mas sabe o que enfraquece uma relação? indagações desse tipo. é de partir o coração. livreiras de tpm são capazes de crimes passionais. acreditem.
[a volta dos mortos cozidos]

prestenção!: (via wikipedia: ofélia ramos anunciato (itatiba, 27 de dezembro de 1924são paulo, 26 de outubro de 1998) foi uma culinarista e cozinheira brasileira. tornou-se famosa ao apresentar programas de cozinha (a cozinha maravilhosa de ofélia) na televisão. começou a sua carreira de divulgação culinária em 1958 com a publicação de receitas nos jornais a tribuna (santos) e a gazeta (são paulo).

(seção de culinária. livreira tenta dar um jeito na bagunça, quando é surpreendida por uma freguesa)

- moça! eu já procurei por todo o lugar, mas não encontro a biografia da ofélia.
- biografia da ofélia?! não seria aquele livro famoso, o de receitas?
- não! eu quero o que conta a história de vida dela.
- sei. e é lançamento?
- isso! ontem ela estava no programa do ronnie von falando sobre o livro.

(ma che!)

- a ofélia? mas ela não morreu há uns dez anos?
- deus me livre, moça, não fala uma coisa dessas. até pouco tempo ela tinha um programa de tv, você não assistia?
- a ofélia? tem certeza?
- tenho. ela apresentava com aquele boneco engraçado.

(HAHAHAH)

- então, será que não é esse aqui ó?

(constragimento sem fronteiras mode: on)

- ahhhhh, é este mesmo!

manual prático bons modos em livrarias: tem como não amar?
[alucinação literária]


- oi, por favor, onde ficam os livros dublados?
- como assim?

(???????????????????????????)

- ORA, LIVROS DUBLADOS!

manual prático de bons modos em livrarias: eu me pergunto diariamente como é que a gente não se acostuma. e estou chegando à seguinte conclusão: a indústria farmacêutica de remédios controlados tem algum tipo de parceria com o mercado editorial.
[o freguês dos baskerville]


freguês: olá, onde posso encontrar a biografia do sherlock holmes?

(pausa para um café filosófico, um banquinho, um violão, qualquer coisa)

livreiro: biografia do sherlock holmes? mas ele é uma personagem fictícia de connan doyle.

freguês: mas vocês têm a biografia dele?

(livreiro, aflito, teme estar falando em russo, sem saber. mesmo assim, acha válido mais uma tentativa)

livreiro: senhor, connan doyle escreveu aventuras sobre sherlock holmes, mas o personagem é ficcional, sendo assim, ele não existe. aliás, temos aqui na livraria algumas edições dos livros de sherlock holmes comentadas.

(livreiro vai até a seção de literatura e pega uma das edições citadas e entrega o exemplar ao freguês, que examina a obra cuidadosamente e, satisfeito, finaliza o espetáculo)

freguês: ah, esta é a biografia dele?

manual prático de bons modos em livrarias: pegadinha do malandro, câmera escondida do topa tudo por dinheiro, enfim, trabalhamos com tudo isso e mais um pouco.
[tudo junto e misturado - parte 2]



- mocinho, por favor, você pode me mostrar onde ficam os livros de shoyu?

(livreiro, prontamente, leva a cliente até a estante de gastronomia e mostra alguns livros de culinária)

- não, não. não são esses! (inconformada)

(pensativo, o livreiro mostra os títulos sobre molhos, comida oriental e NADA)

- SHOYU, MEU FILHO, SHOYU! (a freguesa está no alto da sua indignação e falando cada vez mais alto)

(sem ter a quem recorrer, livreiro olha desoladamente para os lados, sem um resquício de esperança. ele sabe, ah, ele sabe, que só um milagre divino será capaz de salvar a sua pele)

- OSHO! o que ela quer são livros do OSHO!

(uma freguesa, que acompanhava de perto a situação, salva a pátria do nosso colega de trabalho. o livreiro, aliviado, leva a freguesa até o local dos molhos oshianos, digo, de meditação e todos ficam extremamente satisfeitos)

manual prático de bons modos em livrarias: pedimos ao universo, diariamente, mais fregueses como a carol menezes. matar um leão por dia, às vezes, pode ser um tanto quanto perigoso para a pele.
[on the road]


a livreira aqui está de férias (!!!) e vai seguir viagem com seu amor livresco por alguns dias.

até breve,
[tudo junto e misturado - parte 1]





- oi, eu queria um livro chamado "cheiro do rabo".
- não seria "o cheiro do ralo"?

- oi, você tem aquele livro chamado "o buda e o executivo"
- "o monge e o executivo"?

- meu filho precisa ler um livro pra escola chamado "capitães de copacabana".
- capitães de copacabana?
- é, do jorge amado.
- ...

- então, aquela poeta clarince lispetor não escreveu um livro chamado "o pássaro e a estrela"?
- poeta, clariNce, pássaro?

- eu queria aquele livro que saiu na lista dos mais vendidos "a menina que empinava pipa".
- hahahahahhaha (a risada foi inevitável, eu confesso)

e, por último,


- moça, eu tenho anotado aqui o nome do livro. só um instantinho, por favor. (mexendo freneticamente na bolsa, tirando tudo da bolsa, menos, encontrando o papel) ah, está aqui no meu caderninho, ah sim, ora, vejamos, o nome do livro é: "a cabana de marley e eu". (é, meus amigos, estava A N O T A D O A S S I M)
- ...


manual prático de bons modos em livrarias: nossos fregueses são pessoas, acima de tudo, criativas. assim como existem os "capistas" (responsáveis pela capa dos livros), deveria existir, também, a função de "titulista" (sim, é isso mesmo o que você está pensando). estou aqui quebrando a cabeça, tentando lembrar de todos os títulos já criados por nossos colegas de trabalho (ora, se o silvio santos pode chamar a platéia assim, por que não podemos?) mas é uma tarefa impossível. portanto, vou dividir a missão com vocês. lembrou de algum título bizarro/trocado/inventado por um freguês?, mande cá pra gente.
[versão impressa do manual prático de bons modos em livrarias]

seria exatamente assim.
[amém]

antes de relatar o causo a seguir, gostaria de pedir a colaboração dos livreiros amigos com histórias relacionadas ao livro ágape (padre marcelo rossi), um dos maiores sucessos editorais dos últimos tempos. tamanho o sucesso que os fregueses não conseguem medir esforços para chamar a nossa atenção na hora de comprar o seu. só para ilustrar, rapidinho aqui, há algumas semanas, uma freguesa ao descobrir que não tínhamos mais nenhum exemplar da obra, mandou todos os livreiros tomar naquele lugar. cê duvida? vai vendo que só melhora.




resumo da ópera: livreiro, precisando de privacidade para fazer uma ligação pessoal, vai até o setor de livros esotéricos, afastado dos demais. quando ele pega o telefone, uma senhora, nos seus 80 anos, aponta o livro ágape para ele:

livreiro (sorrindo e pensando"é hoje..."): pois não?

senhora (sorrindo): você é católico?

livreiro (sorrindo e desejando uma morte lenta e dolorosa): sou, sim... (pronto, lá vai ele pro inferno, o mentiroso)

senhora (obstinada): leia essa oração. é boa. é só pedir pra mãe ir na frente. "mãezinha, vai na frente, mãezinha, vai na frente" (fechando os olhos e empurrando algo imaginário com a mão). eu tenho 80 anos e sou saudável, então eu dou esse livro de presente, com o dinheiro que gastaria com remédios, médicos. eu já dei pra minha gastro, pro endocrino, pra ginecologista, pro pneumologista (saudável? oi?)

livreiro (não conseguindo demonstrar nada além de espanto): ah, sim...

senhora (séria): é verdade. e eu não sou fanática. mas eu dei 20 desses de presente e hoje vou levar mais dois. e eu não sou fanática, mas eu tenho problema de gases (aperta a barriga). um dia eu coloquei o livro na barriga e pedi pra mãezinha ir na frente (???) e pronto, resolveu.

livreiro (imaginando peidos, estouros, explosões, o apocalipse e tudo mais): é... incrível...

(silêncio constrangedor, enquanto a senhora se dirige ao caixa, mas não sem antes fazer a pergunta "você é católico?" para outro livreiro)

manual prático de bons modos em livrarias: ágape (do wikipedia, claro: em grego "αγάπη", transliterado para o latim "agape") é uma das diversas palavras gregas para o amor. basicamente é isso, a gente ama diálogos assim. por favor, mantenham a qualidade. agradecemos desde já.
[contatos imediatos]





agora é possível: manualpraticodebonsmodosemlivrarias@hotmail.com. caso queiram nos mandar euros, presentes, chocolates ou qualquer outro tipo de mimo, estamos providenciando uma caixa postal.
[em busca do livro perdido]



- boa tarde, o senhor precisa de ajuda? (livreira oferece auxílio após perceber o desespero de um freguês, enquanto ele procura algo na estante de história)
- sim, é que eu deixei um livro escondido aqui atrás e não estou encontrando.
- o senhor escondeu um livro?
- é. eu precisava ir almoçar e deixei ele escondidinho aqui, mas alguém deve ter tirado do lugar. (sem um pingo de vergonha na cara)
- entendo.
- entende? eu preciso do livro, minha jovem.
- então, mas se o senhor escondeu, só o senhor sabe onde ele está.

(muitos minutos depois)

- encontrei, viu.
- é? e onde ele estava?
- ali atrás, ó. no lugar onde eu falei que tinha deixado.
- mas o senhor não tinha colocado na estante de história? ali é a estante de psicologia.


manual prático de bons modos em livrarias: quando você visita a casa de alguém, o jeito como os objetos são organizados é, inevitavelmente, diferente da forma como você organiza os seus. a mesma coisa acontece em uma livraria. por mais que você não entenda a organização, existe uma e os livreiros a conhecem. se você não pode comprar o livro naquele momento (seja lá por qual motivo), peça ao livreiro que reserve um exemplar para você (acredite, fazemos isso todos os dias). as chances de uma foto sua parar na boca do sapo (acredite, também fazemos isso todos os dias) serão nulas.
[manual prático de leitura utilizando feijão]


quer saber como? a vanessa bárbara, da ed. companhia das letras, te explica.
[pelas barbas do tolstói]




- cara, você já leu tolstói?
- tolstói?
- é, cara. acho incrível!
- e o que ele já escreveu?
- pô, tolstói!? tolstói é o cara que escreveu "o senhor dos anéis".

manual prático de bons modos em livrarias: escutar conversa alheia é nosso passatempo favorito, durante o horário de trabalho. a gente sempre garimpa umas pérolas que são guardadas no fundo do nosso coração. continuem, por favor. e, se possível, falem alto para que todos possam se sentir satisfeitos (inclusive outros fregueses).
[bons drink]



passeando entre as estantes da livraria, um freguesa, indignada, comenta com a amiga:

- olha como são as coisas.... só porque o cara morreu, estão publicando todos os livros dele.

intrigado, o livreiro olha para ver qual é a obra em questão e depara-se com isto.

manual prático de bons modos em livrarias: durmam com esse barulho.
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